segunda-feira, 20 de maio de 2024

mudar de amor



 

Não é fácil mudar de casa, 
de costumes, de amigos, 
de segunda-feira, de varanda. 
Pequenos ritos que nos foram 
fazendo como somos, a nossa velha
 taberna, cerveja
 para dois. 
Há coisas que não arrasta a bagagem: 
o céu que levanta uma persiana,
 o cheiro a tabaco de um desejo,
 os caminhos batidos do nosso coração. 
Não é fácil desfazer as malas um dia 
numa chuva diferente, 
mudar sem mais de lua,
 de névoa, de jornal, de vozes, 
de elevador. 
E sair para uma rua que nunca pressentiste, 
com outros pardais que já
 não te perguntam, outros gatos 
que não sabem o teu nome, outros beijos 
que não te vêem chegar. 
Não, não é fácil mudar agora de chaves. 
 
E muito menos fácil, 
já sabes
 mudar de amor 







 Ángeles Mora

terça-feira, 7 de maio de 2024

devagar



 

Não sei, minha mãe, o que escondeste nas sílabas, 
que violenta neblina lá guardaste, 
mas não esqueço a euforia do espanto, 
essa festa distante onde chamava por ti devagar, 
sempre tão devagar. 






José Oliveira Fernandes