Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Poemas perfeitos em noites escuras
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Cansaço
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Dos dias
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Um corpo
Tocas um corpo, sentes-Ihe o repetido tremor
sob os teus dedos, o cálido andamento do sangue.
Observas-Ihe o lânguido amolecimento,
as suas sombras corporais, o seu desvelado esplendor.
Não há palavras. Tocas um corpo; um mundo
enche agora as tuas mãos empurra o seu destino.
Estira-se o tempo nos pulmões
silva como um chicote rente aos lábios.
As horas, o instante, detêm-se,
extrais aí a tua pequena parcela de eternidade.
Antes foram os nomes e as datas.
a história tão clara e lúcida de dois rostos distantes.
Depois aquilo a que chamas amor,
talvez se transforme em promessa arrancada,
muro erguido que pretende encerrar
aquilo que só em liberdade pode ganhar-se.
Não importa, agora nada importa.
Tocas um corpo, nele te fundes,
apalpas a vida, real, comum.
Já não estás só.
Juan Luis Panero
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Natal
Foi numa cama de folhelho,
entre lençóis de estopa suja
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos reis da Judeia a persegui-lo;
que não terá coroas de espinhos
mas coroas de baionetas
postas até ao fundo do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.
Álvaro Feijó
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Não sei...
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Palavras
Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...
Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
Pedro Tamen
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Dos dias
sábado, 17 de dezembro de 2011
Melancolia
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
O quereres
Onde queres o ato eu sou o espírito,
e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo,
e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão...
Ah, bruta flor do querer,
Ah, bruta flor, bruta flor...
e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo,
e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão...
Ah, bruta flor do querer,
Ah, bruta flor, bruta flor...
Caetano Veloso
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
sábado, 10 de dezembro de 2011
Ofício
Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
A palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
Enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
Precisam de ser limpas e acariciadas:
A palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
É preciso raspar-lhe a sujidade dos dias
E do mau uso.
Muitas chegam doentes,
Outras simplesmente gastas, estafadas,
Dobradas pelo peso das coisas
Que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar
E é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo, voltam os olhos para a luz
E vão para longe,
Leves palavras voadoras
Sem nada que as prenda à terra,
Outra vez nascidas pela minha mão:
A palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
E lavadas como seixos do rio:
A palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
De mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes um braço para apanhares
A palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
A palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
Enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
Quase todas as palavras
Precisam de ser limpas e acariciadas:
A palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
É preciso raspar-lhe a sujidade dos dias
E do mau uso.
Muitas chegam doentes,
Outras simplesmente gastas, estafadas,
Dobradas pelo peso das coisas
Que trazem às costas.
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar
E é preciso fechá-la na arrecadação.
No fim de tudo, voltam os olhos para a luz
E vão para longe,
Leves palavras voadoras
Sem nada que as prenda à terra,
Outra vez nascidas pela minha mão:
A palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
E lavadas como seixos do rio:
A palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
De mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes um braço para apanhares
A palavra barco ou a palavra amor.
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.
Álvaro Magalhães
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Faltas
De ti é possível dizer
que te ausentaste para parte incerta
deixando tudo no teu lugar
...
De súbito faltam-me as palavras
que te ausentaste para parte incerta
deixando tudo no teu lugar
...
De súbito faltam-me as palavras
Manuel António Pina
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Talvez
E quando aqui não estiveres, espetarei todas as facas que encontrar nas paredes febris da noite.
Talvez sangre dos pulsos.
Talvez sangre dos pulsos.
Talvez te escreva
Talvez
Al Berto
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
As minhas estranhas dores
No entanto hei-de falar-vos delas um dia, se me lembrar, se puder, das minhas estranhas dores, em pormenor, distinguindo entre os diferentes géneros, para maior clareza, as do entendimento, as do coração ou afectivas, as da alma () e finalmente as do corpo propriamente dito, primeiro as internas ou latentes, depois as da superfície...
E, aos que tiverem a gentileza de me ouvir, falarei também, na mesma ocasião, de acordo com um sistema inventado já não me lembro por quem, daqueles instantes em que, sem se estar drogado, nem bêbado, nem em êxtase, não se sente nada.
Samuel Beckett
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
E eu?
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Um só poema
terça-feira, 29 de novembro de 2011
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
domingo, 27 de novembro de 2011
sábado, 26 de novembro de 2011
Todos os dias
É tão bom começar a manhã com tudo o que queremos ser neste dia. Olhar sem medo pela janela, ensaiar uns passos fora da pele. Já não somos nós, nem mesmo é nosso o dia.Tropeçamos nos olhos espantados à volta do que vemos, precipitamo-nos para dentro e é tudo o pouco que fizemos. Dizemos que a pele é a nossa casa, enumeramos as assoalhadas, a arquitectura sólida, as vantagens de grades nas janelas. Depois fica-se triste até ao fim do dia. Há quem faça compras ou coma chocolate, quem diga mal de todos, quem não acorde a espreitar pela pele como ser outro, mas ele está a dois passos, a respiração, a temperatura, o olhar, o corpo móvel que se afasta levando o horizonte e só nos resta sonhar com a manhã seguinte e todos os dias - todos os dias - mentimos para dentro da pele.
Rosa Alice Branco
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Com o teu olhar
Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.
Manuel António Pina
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
O amor
O amor é o início. O amor é o meio. O amor é o fim. O amor faz-te pensar, faz-te sofrer, faz-te agarrar o tempo, faz-te esquecer o tempo. O amor obriga-te a escolher, a separar, a rejeitar. O amor castiga-te. O amor compensa-te. O amor é um prémio e um castigo. O amor fere-te, o amor salva-te, o amor é um farol e um naufrágio. O amor é alegria. O amor é tristeza. É ciúme, orgasmo, êxtase. O nós, o outro, a ciência da vida.
O amor é um pássaro. Uma armadilha. Uma fraqueza e uma força. O amor é uma inquietação, uma esperança, uma certeza, uma dúvida. O amor dá-te asas, o amor derruba-te, o amor assusta-te, o amor promete-te, o amor vinga-te, o amor faz-te feliz. O amor é um caos, o amor é uma ordem. O amor é um mágico. E um palhaço. E uma criança. O amor é um prisioneiro. E um guarda. Uma sentença. O amor é um guerrilheiro. O amor comanda-te. O amor ordena-te. O amor rouba-te. O amor mata-te. O amor lembra-te. O amor esquece-te. O amor respira-te. O amor sufoca-te. O amor é um sucesso. E um fracasso. Uma obsessão. Uma doença. O rasto de um cometa. Um buraco negro. Uma estrela. Um dia azul. Um dia de paz. O amor é um pobre. Um pedinte. O amor é um rico. Um hipócrita, um santo. Um herói e um débil. O amor é um nome. É um corpo. Uma luz. Uma cruz. Uma dor. Uma cor. É a pele de um sorriso.
Joaquim Pessoa ‘Ano Comum’
domingo, 20 de novembro de 2011
Xeque mate
Caem-lhe as peças de xadrez do tabuleiro derrubadas por movimentos mal calculados. Ouvem-se no andar de baixo a embaterem no soalho e calarem-se num som trémulo, quase um lamento. Ele apanha-as e volta a colocá-las nos lugares de que se lembra. Sabe que erra os lugares, principalmente quando cai mais do que uma peça. Sabe também que não importa. Como não importa quem ganha ou quem perde, ele ou o outro que com a sua mão joga do outro lado. Importante é não parar de jogar.
Cansar a noite, cumprir a vida, deitar-se para amanhã recomeçar.
Jorge Roque
sábado, 19 de novembro de 2011
O silêncio
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Um dia...
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Arte de navegar
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Fogo posto
É a labareda da seda sob os dedos transmitida ao corpo todo,
seda extraída ao segredo - tocar e ser tocado,
sentir em si a ligeireza do fogo, a profundeza,
e estremecer, ficar em chaga;
e com dedos e sedas manter às labaredas,
entre terror e louvor, a comburente,
combustível composição de tudo:
ser queimado vivo,
ser luminoso.
Herberto Helder
domingo, 6 de novembro de 2011
Asas
sábado, 5 de novembro de 2011
O meu corpo
O meu corpo, se bem que leve, é um peso que arrasto sem forças para tanto, um peso que me dói, além de me pesar e de me coagir a arrastá-lo. Desejaria não o sentir, como não sinto o ar que respiro, embora esteja envolvida nele e com ele. Queria deslocar o corpo sem esforço, tal como desloco fluidos, cheiros, poeira, quando caminho de qualquer lado para qualquer lado. Queria disponibilizar o corpo, guardá-lo bem fechado numa gaveta secreta e, quando precisasse, ia lá buscá-lo, trazia-o comigo e dizia-lhe: agora quero sentir-te, mostra-me lá como é , dá-me apetites e desejos que eu possa facilmente satisfazer, dá um prazer à alma que te habita...
Fernanda Botelho
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Da nudez
domingo, 30 de outubro de 2011
E agora ?
Da paixão cansei-me (pode acolher tanta morte um corpo, esse mesmo que brilha à luz do desejo, esse mesmo que guarda a promessa da alegria). A verdade gastou-se (isto é o mais fácil de compreender: a verdade gasta-se, quando chegamos ao lugar de a encontrar, sabemos por fim que não existe). Sobrou o que sou e o que não sou também, pelo meio a linha de uma estreita solidão, e é isto que te dou (isto o que te posso dar). Só aqui, só agora, este sorriso de estar vivo, e por vezes o cansaço (que embora não pareça faz parte do sorriso).
E agora já me entendes?
E agora ainda me queres?
Jorge Roque
sábado, 29 de outubro de 2011
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
E os dias todos iguais
gala royal, green smith, red delicious, golden, reineta, pink lady, starking, tantas maçãs diferentes e os dias todos iguais, nunca uma promoção, na compra de uma semana completa ganhe 20% de dia, ou compre dois dias felizes e leve três, nunca um brinde para clientes habituais, três horas com o formato de primavera, ou um expositor com dias defeituosos em saldo, uns minutos desperdiçados ou umas horas adormecidas, descontos, dias mais baratos, se os dias não possuíssem a monótona qualidade de serem todos iguais podiam vender-se na secção dos hortícolas, dias alegres, melancólicos, terríveis, correntes, calmos, murchos, dias 100% biológicos, embalados ou avulso, tantas maçãs diferentes e os dias todos iguais.
Dulce Maria Cardoso
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Escolhas
domingo, 23 de outubro de 2011
sábado, 22 de outubro de 2011
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Sexta feira
Tranquila Sexta-feira
abandonada Sexta-feira
Sexta-feira cada vez mais triste como ruelas antigas
Sexta-feira de indolentes pensamentos indispostos
Sexta-feira de sinuosos e nefastos espreguiçamentos
Sexta-feira de nenhuma expectativa
Sexta-feira de rendição.
Casa vazia
casa solitária
casa trancada contra a investida da juventude
casa da escuridão e ânsias de sol
casa de solidão, augúrio e indecisão
casa de cortinas, livros, guarda-louça, fotografias.
Ah, como a minha vida fluiu silenciosa e serena
como uma corrente profunda
através do coração dessas silenciosas, abandonadas Sextas-feiras
através do coração dessas tristes casas vazias
ah, como a minha vida fluiu silenciosa e serena.
Forough Farrokhzad
(Versão de Vasco Gato)
(Versão de Vasco Gato)
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Das noites
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