Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
Interminalvelmente
Entre a folha branca e o gume do olhar
a boca envelhece
Sobre a palavra
a noite aproxima-se da chama
Assim se morre dizias tu
Assim se morre dizia o vento acariciando a cintura
Na porosa fronteira do silêncio
a mão ilumina a terra inacabada
Eugénio de Andrade
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Noite
Os gestos mudaram, a iluminação também.
Conseguimos esconder-nos atrás de nós mesmos.
A noite, como sempre, vai servindo para esperar.
De que se vive, afinal? De que se morre?
Vítor Nogueira
terça-feira, 28 de outubro de 2014
sábado, 25 de outubro de 2014
Aperto
Aqui vivemos com uma mão na garganta. Que nada é possível sabiam-no já os que inventavam chuvas e teciam palavras com o tormento da ausência. Por isso nas suas orações havia um som de mãos enamoradas pela névoa
Alejandra Pizarnik
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Post it
De noite, quando o frio entra pelas casas, e um resto de solidão gela
o fundo da alma, aqueço-me com o fogo que me deixaste.
De manhã recolho as suas cinzas
Nuno Júdice
(Foto de Laura Makabresku)
terça-feira, 21 de outubro de 2014
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
(Ballantines 12 anos para mim se faz favor)
Que limbo é este onde
Pelo meio da noite às vezes aparecias
Mas apenas para desfazer esquecidos silêncios
Porque bem sabes ao terceiro Whisky
O amor é sempre eterno
Alice Vieira
(Foto de Laura Makabresku)
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Pena capital
Deixe a luz acesa, que eu estou com medo de mim.
Bati a porta errada,
disse a palavra inadequada,
queimei o filme,
rasguei o cetim.
Hoje eu tropecei na própria sombra,
errei a mira,
quebrei o cristal.
Se alguém me disser que não faz mal,
quem sabe eu me convença
e anule de vez essa sentença
que determina minha pena capital.
Flora Figueiredo
(Foto de Katia Chausheva)
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
domingo, 12 de outubro de 2014
Falta de Ar
Joelhos e memórias
é o que vai primeiro.
A dificuldade em andar
acompanhada pela incapacidade
de recordar. Caímos
e descobrimos a falta
de ar ou como a luz do sol
entra numa divisão só para ser
seduzida pelas sombras.
Eugene Ethelbert Miller (tradução de manuel a. domingos)
(Foto de Laura Makabresku)
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Quando a noite vier
- ergue as asas
fere o ar que te sufoca e não te mexas
para que eu fique a ver-te estilhaçar
aquilo que penso e já não escrevo - aquilo
que perdeu o nome e se bebe como cicuta
junto ao precipício e à beleza do teu corpo
Al Berto
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Dia de Nobel da literatura
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios
Manoel de Barros
(Aqui ganhou o Sr. Manoel)
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
domingo, 5 de outubro de 2014
sábado, 4 de outubro de 2014
Palavras inabitadas
Sentaste-te a meu lado. Era Verão, um vento estonteante agitava as folhas secas.
Perguntei-te: "Amas-me?"
E tu disseste: "Sabes bem que o amor não é uma resposta."
Ana Marques Gastão
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