Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus
quinta-feira, 30 de junho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
E voltar entre ruínas
A primeira coisa a fazer é escolher a faca
ou por outras palavras a maneira de poder acordar em camas desfeitas
de luas e mares
sonhando com o verão e todos os seus crimes lentos
depois há que não dar tréguas
e ocultar de imediato as provas
ou por outras palavras
desabitar de ti as ruas os quartos as molduras
a velha canção inutilmente decorada
e abrir a porta a quem chega desprevenidamente
e encontrar o teu rasto ainda intacto
e servir o café e a cicuta na mesma bandeja
Mas acima de tudo edificar de novo a casa entre ruínas
ou por outras palavras
enterrar na garganta um nome que era nosso
apagar dos muros da cidade os vestígios da noite
e por breves segundos iluminar ainda do teu sangue
a madrugada em que te perco
ou por outras palavras a maneira de poder acordar em camas desfeitas
de luas e mares
sonhando com o verão e todos os seus crimes lentos
depois há que não dar tréguas
e ocultar de imediato as provas
ou por outras palavras
desabitar de ti as ruas os quartos as molduras
a velha canção inutilmente decorada
e abrir a porta a quem chega desprevenidamente
e encontrar o teu rasto ainda intacto
e servir o café e a cicuta na mesma bandeja
Mas acima de tudo edificar de novo a casa entre ruínas
ou por outras palavras
enterrar na garganta um nome que era nosso
apagar dos muros da cidade os vestígios da noite
e por breves segundos iluminar ainda do teu sangue
a madrugada em que te perco
E fecho os olhos
E abro o gás
E abro o gás
Alice Vieira
quarta-feira, 22 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
Duvidas
domingo, 19 de junho de 2011
sábado, 18 de junho de 2011
Palavras à flor da pele
Não digas que conheces minhas dores
Deixas-me com meus desamparos
Não sabes do estio dos meus lábios
E das marcas que abraçam minha solidão
Pedaços de ti que arranham meu corpo
Não penses que é melhor assim
Nem pressuponhas que a saudade finda
Como se o teu silêncio e deserção
Apagassem o perfume do desejo
Ou a inquietude de sentir-te em mim
Não me obrigues a entender a crueldade
Prefiro ignorar esta estrada que dizes destino
Não quero dar-te ao esquecimento dos sentidos
Nada sei destas trilhas em que sucumbes
Soterrado pelos passos que te negas
Não me convides às tuas renúncias
Nem me batizes nestas águas
Que sangram e definham teu peito
Tenho ardores de vida que me cingem
Férteis à espera que te resgates de ti
Não me amputes de mim, dos meus sonhos
Nem me indiques tuas confortáveis saídas
Prefiro o rasgar de entranhas, a febre do sentir
Ao discurso patético do conformismo
Lanço à fogueira, a impotência, o desistir
Sim, hoje estou em carne viva
Palavras à flor da pele, despindo-se
Ainda que seja este um grito confinado
Ao subterrâneo do meu mundo
Este que já não te alcança.
Fernanda Guimarães
sexta-feira, 17 de junho de 2011
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Noites Assim
Mas quando a memória da noite consegue trazer-te intacto, fecho os olhos, o corpo e a alma latejam de dor.
Al Berto
quarta-feira, 15 de junho de 2011
segunda-feira, 13 de junho de 2011
A dor de todas as ruas vazias
É um lugar ao sul
a cal amotinada desafia o olhar
Onde viveste.
Onde ás vezes no sono vives ainda.
O nome prenhe de água escorre-te da boca
Por caminhos de cabras descias á praia
o mar batia naquelas pedras, naquelas sílabas
Os olhos perdiam-se afogados
no clarão do ultimo ou do primeiro dia
Era a perfeição
sábado, 11 de junho de 2011
Como se não fosse nada
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Homens que são como lugares mal situados
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Ouvi dizer
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!
Ornatos violeta
terça-feira, 7 de junho de 2011
segunda-feira, 6 de junho de 2011
domingo, 5 de junho de 2011
Escrever-te
Há em mim uma luta entre o desejo de que te esqueça e o de endoidecer contigo
Vergílio Ferreira (Cartas a Sandra)
sábado, 4 de junho de 2011
Noites perdidas
a minha boca abandonada na segunda metade de um beijo
mastigava palavras que te amariam se as deixasses pousar-te na pele.
Não quis adormecer para não ter de acordar sem ti mas acordei.
E a manhã é um silêncio
E o teu toque uma mentira.
Pedro Jordão
sexta-feira, 3 de junho de 2011
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Ultimo brinde
À minha vida feroz,
À solidão dos abraços
E a ti, num brinde, ergo a voz...
Ao lábio que me traiu,
Aos mortos que nada vêem,
Ao mundo, estúpido e vil,
A Deus, por não salvar ninguém.
Ana Akhmátova
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Vestidos secretos
A quem deixar o meu guarda-roupa oculto
o guarda-roupa fantasma
de todos os vestidos
que tive e que me abandonaram
os vestidos
que nunca tive e que vesti em segredo
O vestido que veio demasiado cedo
e que nunca me caiu bem
o vestido
que chegou já tarde
para ir à festa
quando eu já tinha adormecido
O vestido de criança
tão igual ao vestido
da primeira boneca
O da menina com o corpete já estreito
que apertava os seios doendo-lhe em casulo
O da adolescente que pressentia o homem
ladrão de túnicas na sesta sufocante
O vestido esquecido
da mulher que sob a sombra
do homem eclipse ocultou-se uma noite
e amanheceu como a lua cheia
surpreendida pela luz na metade do céu
O vestido de guerra rasgado
como bandeira
da mãe partida em dois
para sentir-se inteira
O vestido de luto que não levei para os meus
mortos
que ainda vivem
Os vestidos que alguém me emprestou para sonhar
...Quando chegar a morte também será um vestido
que não verei porque estarei a dormir.
Josefina Plá
Subscrever:
Mensagens (Atom)