Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus
domingo, 30 de junho de 2013
quinta-feira, 27 de junho de 2013
O índice dos teus dedos
Do sofá ainda tão gasto
entre as duas portas,
agora parecem mais:
todos no chão da sala,
volumes em resma,
tamanhos variáveis,
desalinhados,
no lugar dos tacos regulares,
escondem-nos.
Os livros todos, o chão da sala,
pequenas torres impressas,
legos impossíveis:
os que foram
desconhecidos nesta morada,
as dádivas secretas,
o sítio das palavras que não regressaram.
No canto superior direito,
o índice dos teus dedos,
a tua sombra em tantas páginas.
Margarida Ferra
quarta-feira, 26 de junho de 2013
terça-feira, 25 de junho de 2013
sábado, 22 de junho de 2013
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Promessas
Prometo-te a palma da minha mão para a escrita.
Cerca-a de magnólias, cerca-me. Podes fechar a escrita
No interior da mão ou na boca dos livros
Podes esquecê-la ou libertá-la dos mil botões
Que ela sopra no interior dos homens.
Podes mandá-la àqueles que mais amas
Ou como pétalas e mensagens nas anilhas das aves
Aos teus próprios inimigos.
Podes desarmá-la para propagares as chamas.
Dou-te, como desde sempre, o poder
De escreveres na pele da minha mão
As promessas que te fiz.
Sabes que existo
E que vou repetir-te todas as coisas outra vez.
Daniel Faria
quarta-feira, 19 de junho de 2013
terça-feira, 18 de junho de 2013
As coisas
São feitas de vidro.
Partem-se quando digo em voz alta
o teu nome. Nome de todas as coisas
Inês Fonseca Santos
domingo, 16 de junho de 2013
Será que
(...)
Tu que te estatelas agora no céu de cada noite deserta, será que algum dia tornarás a ler o céu no chão?
Será que em alguma papelaria escondida na cidade, encontrarei um dia um mapa para te ler sem te sufocar?
Tu que me tropeças cada passo, será que tens ainda em ti, o único pulmão que já me fez respirar?
Nada sei de mim. Mas sei quem tu és.
És a única pergunta que não formulei.
Será que ao menos sabes que eu não sei?
Manuel Cintra
sexta-feira, 14 de junho de 2013
Eu
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta
ao pé de
uma parede sem porta.
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Foto de
Francesca Woodman
quinta-feira, 13 de junho de 2013
E nunca mais
Na música que é tua,
meus lábios torrenciais
caem pesados, duros.
E nunca mais.
Despenham-se a prumo:
vidros ou punhais.
Arrastam-te ao fundo.
E nunca mais.
Eugénio de Andrade
quarta-feira, 12 de junho de 2013
terça-feira, 11 de junho de 2013
8½
Duas árvores de avanço,
Uma corrida louca ....
... E o teu coração na minha boca !
Alexandre O'Neill
segunda-feira, 10 de junho de 2013
domingo, 9 de junho de 2013
Noite
Resta-nos adormecer onde eclode a borboleta
e balbuciar dentro do sonho as palavras que nunca ousaremos dizer.
Al Berto
quinta-feira, 6 de junho de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
terça-feira, 4 de junho de 2013
Que queriam fazer de mim?
Uma palavra, um gemido obsceno,
Uma noite sem nenhuma saída,
Um coração que mal pudesse
Defender-se da morte ,
Uma vírgula trémula de medo
Num requerimento azul, azul,
Uma noite passada num bordel
Parecido com a vida , resumindo
Brutalmente a vida!
(...)
Alexandre O'Neill
sábado, 1 de junho de 2013
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