de ternura ficou um pouco
Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
dias maus
Dias maus. Dias
em que nada sai bem
Em que vês caninos aguçados na face
das pessoas que dizem amar-te
Em que o sol é uma arma de arremesso
ou a chuva uma descarga de vinagre
Em que mais valia borrifares com enxofre
a entrada da tua casa. Metes-te na cama. Rezas
para que os cães não cheguem à tua porta
Roger Wolfe
domingo, 23 de fevereiro de 2020
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
nada
Apenas isto, nada, um whisky
já sem gelo que adormece renitente
sobre o colo da angústia
E é tão bom não ter caminho
Manuel de Freitas
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
uma vez amei
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são
Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
acabo sempre por falar de ti
há uma diferença
entre a magnólia que nos cresce fora
e aquela que regamos com o sangue
Daniel Faria
terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
era tarde demais
Foi-se o tempo em que tudo e nada dura,
e hoje penso no acaso sem remédio
de cada um de nós guardar
o passado em gavetas separadas.
Nuno Dempster
(Foto de Saul Leiter)
domingo, 9 de fevereiro de 2020
it seems so long, since you've been gone
I passed by your garden, saw you with your flowers
The camellias, magnolias, and azaleas so sweet
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020
quando a noite cai
estou como a flor
preciso de música e champanhe
(A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias)
terça-feira, 4 de fevereiro de 2020
domingo, 2 de fevereiro de 2020
resta-nos continuar a teimar
O martelo acertou onde não devia, mau grado os esforços para uma pancada firme e precisa. Este último ponto, admito, é controverso. A vida é sobretudo desequilíbrio em movimento, circo precipitado de forças, embate, ricochete, crise, acomodação. Pouco mais do que teimosia, seguindo o raciocínio, a ideia de um esforço concentrado, dirigido. Um martelo e um prego, por exemplo, e uma recta certeira a uni-los. Não obstante, resta-nos continuar a teimar, é aqui que a lógica se complica e na razão se encrava a perfeita teoria. Mas, regressando ao martelo, não acertou no prego, não acertou no dedo, não acertou no estuque liso da parede. Onde acertou afinal? O certo é que ficou a doer. Essa certeza basta à poesia.
Jorge Roque
(Foto de Natalia Drepina)
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