Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Morrerei sem retratos. Nem de mim nem de ti
nem de uma ou outra mão que me tocou o ombro.
(O esforço é um revigorante da memória –
deixemos o assunto por aqui).
Morrerei sem cadastros, sem datas ou saltérios,
com que embalar as noites às crianças do bairro,
e dessas perdas a que mais me doerá
é a caligrafia do teu punho nervoso.
Miguel Martins
(Foto de Laura Makabresku)
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Até quando no túnel sem saída,
no bosque feito de espinhos, no poço?
Até quando instalada na esperança
dos que nada esperam?
Até quando perdida em labirintos,
em cidades sem luz, em pesadelos
que não terminam quando acaba o sonho?
Até quando engolindo
névoas espessas, desconcerto, vertigem?
Até quando sem ti?
Até quando com outros?
Amalia Bautista
(Foto de Nishe)
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Há dias em que desejaríamos amar quem quer que fosse desde que igual ou só parecido com tantos outros e, desde logo, com nós próprios, alguém que nunca compreenderemos. Dias de puro terror em que não apenas não acontece nada como
Dias há em que os próprios dias acontecem. Ou nem isso. Tempo não chegando a ser dia, morto ainda antes de nascer
Puro terror. Dias em que desejaríamos qualquer mão e qualquer uma nos assusta como se nos arrastasse para o nada, onde, paradoxalmente, sabemos que poderíamos encontrar descanso. Uma teimosia irracional impede-nos de
Porque não sabemos mais se avançar, se recusar, se baixar os braços, ou só um e qual, se levantá-los, um só?, mas qual. Permanecemos sentados à espera duma resolução que não chega, mas quando chega, e sabemos que basta esperar, é tão irrisória como qualquer outra, beber um copo de água, comer um pão com geleia, admirar o doce da geleia na língua e saborear a sua cor tão parecida como a do sangue.
Bénédicte Houart
(Foto de Natalia Drepina)
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
domingo, 15 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
Faz-te forte. Hoje é preciso fingir.
Não te mostres, nem mesmo ao simpático desconhecido.
Mantém-te alerta ou cometes os mesmos erros na forma idêntica.
Agarra-te bem. Como na montanha russa.
Nunca se sabe quantas quedas tem a viagem.
Tem pressa em ser amanhã. É lá que habita a nudez.
E todas as coisas puras que existem, não em ti, não desta maneira.
Limpa a imundície. Sobretudo, entre os olhos e a boca. O lugar escuro; do medo.
Preenche esse espaço com compotas e mel. E não fiques à espera.
Alguma língua há-de descobrir-te o rasto.
Cláudia Lucas Chéu
(Foto de Laura Makabresku)
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
domingo, 8 de fevereiro de 2015
todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor nao serve de nada. ficaram só
os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a a cinza dos cigarros e da morte.
os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram
demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas.
sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, em cada hora,
não irei negar isso. não irei negar nunca que te amei. nem mesmo quando estiver deitado,
nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo antes de a foder.
José Luis Peixoto
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
a casa agora é feita d'ângulos agudos,
de perguntas, de poços descobertos,
e nós perdemo-nos por dentro d'outros mundos
por portas que se abriram para dentro.
O meu coração repousa
na cave no meio da minha vida
e eu vagueio lá fora entre os sentidos.
Sou eu quem chama, não me ouves bater?
Manuel António Pina
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
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