Fica e é só o que fica: o primeiro encontro
o primeiro beijo numa gare deserta
o mar por líquida ou aérea testemunha
depois a longa gestação do adeus
único e verdadeiro adeus
o subtil envenenamento da memória
Rui Caeiro
Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus
Penso que não sofria com a tua partida. Estava tudo
ali como habitualmente, as árvores, as rosas, a sombra móvel da casa sobre o
terraço, a hora e a data, e tu, apesar disso, tu estavas ausente. Não pensava
que tivesses de regressar. Em volta do parque rolas sobre os telhados gritavam
por companhia. E depois eram sete horas da tarde.
Disse para mim que te
teria amado. Pensava que já só me restava de ti uma recordação hesitante, mas
não; enganava-me, havia ainda estas praias em volta dos olhos, onde beijar e
deitar na areia ainda quente, e esse olhar centrado na morte.
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