terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Trago os bolsos cheios dos teus poemas

... E se eu não sei contar as palavras que há dentro dos teus poemas
como posso saber quantas habitam o coração do teu silêncio


José Rui Teixeira

Para dizê-lo

É quando a chuva cai,
é quando olhado devagar que brilha o corpo.
Para dizê-lo a boca é muito pouco,
era preciso que também as mãos vissem esse brilho,
dele fizessem não só a música, mas a casa.
Todas as palavras falam desse lume,
sabem à pele dessa luz molhada.


Eugénio de Andrade

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sabes ?

Estremeces-me brutalmente-
és o único diamante que riscou a minha pele

Frederico Mira George

domingo, 27 de dezembro de 2009

Um mar

Andava às voltas no topo de si mesmo e do monte.Trepara a encosta como em pequeno trepava às árvores:para ver melhor.Vivia tão longe da água que tinha a boca seca. Agora andava às voltas cheio de sede a esgotar-se, a suar: -Porque não paras?, perguntar-lhe-ia, se pudesse entrar neste poema. Não havia nada no cimo de si nem do monte- apenas o azul e algumas aves que respiram mais alto. A cidade ficava a meio caminho entre o céu e a terra(o céu lá para cima, ainda depois do monte,a terra cá para baixo, um pouco antes da sede). Ele andava às voltas com a vida: atirava-lhe pedras, gritava (se ao menos a chuva! se ao menos a chuva!) como quem não encontra.
Só mais tarde entendi o que procurava - um mar.


Filipa Leal

sábado, 26 de dezembro de 2009

Dias assim

Há dias assim
em que acordamos e percebemos tudo
como se tudo nos estivesse imensamente próximo
como se cada dia nascesse e morresse num abraço
como se a vida coubesse num poema

José Rui Teixeira

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal Natal ( diziam )

Natal Natal (diziam).
E acontecia.Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Dias assim

O teu corpo transpira o meu ópio.
Não te afastes



Vasco Gato

sábado, 19 de dezembro de 2009

Segredos


Em cada um de nós há um segredo,
uma paisagem interior
com planícies invioláveis,
vales de silêncio e
paraísos secretos


Antoine de Saint - Exupery

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Esta noite

A terra tremeu a sul
6.1 na escala de Richter

9.9 no meu peito
Epicentro no coração

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um instante



Eu dizia-te que chorar é lembrarmo-nos de nós um instante



Al Berto

Inverno

Só quero que você me aqueça nesse inverno
E que tudo mais vá pro inferno
E que tudo mais vá pro inferno

domingo, 13 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dias assim


Dói-me qualquer sentimento que desconheço (...)
Estou triste abaixo da consciência.

 

Fernando Pessoa

Olhares


pobres
dos que nenhuma vez olharam
ou foram olhados
assim.
gil t. sousa

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

À noite..


... À noite as tuas palavras são tão diferentes:
trazem-me o silêncio...
ensinam-me a sedução...
desvelam-me o teu corpo,..
....
Enfim, à noite nada de ti coincide contigo
mas isso ninguém o sabe, nem sequer tu... apenas eu...

Victor Oliveira Mateus

Guardo-te


"E vinha a luz
e guardava-te
e eu guardava-te
também
em lugares mais seguros
que fotografias
ou poemas."

Gil T. Sousa

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Pontes


diz-me qual a ponte
que separa a tua vida da minha,

em que hora negra, em que cidade chuvosa, em que mundo sem luz está essa ponte

e eu a cruzarei

Amália Bautista

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Esperas..


 
...E eu aqui á espera de algumas abertas no teu céu nublado

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Esperas..


Não me arrependo das horas que perdi a esperar-te
quando ainda havia a esperança...a esperança
que havia ainda quando, a esperar-te,
perdi horas de que não me arrependo...

José Luís Peixoto

sábado, 28 de novembro de 2009

Qualquer coisa

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer




Mia Couto

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Que é isto ?

Às quatro da manhã, arranco
ervas daninhas do arrozal.
Mas que é isto: orvalho do campo,
ou lágrimas de dor?

Herberto Helder

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Dias assim

Que nome te resta se eu já aí não estou para te chamar




Al Berto

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Stop


Morar-te..


...Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde

Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te…


Vinicius de Moraes

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Toca-me


Toca-me, conjuga um verbo que conheças
no presente do indicativo, soletra-o na segunda pessoa
do singular ao meu ouvido, dá-me qualquer coisa
que me pareça eterno
Basta-me que o teu olhar me encontre


José Rui Teixeira

Novembro

domingo, 22 de novembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

Solidão


Cresceu-me uma pérola no coração.
mas estou só,
muito só,
não tenho a quem a deixar
 
Al Berto

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

E a noite a pedir musica...

O amor é uma questão de oportunidade:

Não adianta nada conhecer a pessoa certa antes ou depois do momento certo


2046, de Wong Kar-Wai.

Dias tristes


Nos dias tristes fala-se sozinho
e há sempre uma ave que pousa
no cimo das coisas
em vez de nos pousar no coração
e não fala connosco.
Filipa leal

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Voar


Na cartilha maternal das borboletas aprendeste
a voar, e ali escreveste, na ardósia do vento,
os primeiros poemas.

Albano Martins

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Perfil


Respondo de perfil
a quem de frente me imagina.


Alexandre O'Neill

domingo, 15 de novembro de 2009

Não me lembro


Afirmas que brigamos. Que foi grave.

Que o que dissemos já não tem perdão.

Que vais deixar aí a tua chave

E vais à cave içar o teu malão.

Mas como destrinçar os nossos bens?

Que livro? Que lembranças? Que papel?

Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens

Não te devolvo – é minha – a tua pele.

Achei ali um sonho muito velho,

Não sei se o queres levar, já está no fio.

E o teu casaco roto, aquele vermelho

Que eu costumo vestir quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?

E o sol que dá no quarto de manhã?

É meu o teu cachorro que eu tratava?

É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?

Este beijo era meu? Ou já não era?

E o que faço das praias que não vimos?

Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?

E a falésia das tardes de Novembro?

E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?

De quem é esta briga? Não me lembro.



ROSA LOBATO DE FARIA

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A intenção de mim

Tenho a sede das ilhas
e esquece-me ser terra
meu amor, aconchega-me
meu amor, mareja-me
Depois, não
me ensines a estrada.
A intenção da água é o mar
a intenção de mim és tu.




Mia Couto

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Noites assim


Situando-te no meio
desta frase
que equilibra morna
de
saliva
distingo a cor do verão
entre este invernoque é o
teu sabor
na minha língua
Maria Teresa Horta


Palavras


A certa altura da vida começamos a aprender
a esperar o tempo. A certa altura da vida o que
nos mata não são as horas. O que nos mata são
as palavras e a ausência de palavras.




Baptista Bastos

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Uma parede


Inventa uma parede
onde possas encostar-me o corpo
pressionado pelo teu.
Uma parede de textura suave.
Uma parede única,
onde nos encontremos.
Inventa uma parede para o amor.

Silvia Chueire

sábado, 7 de novembro de 2009


, estes são os nomes das coisas que
deixaste – eu, livros, o teu perfume espalhado pelo quarto; sonhos pela
metade e dor em dobro, beijos por
todo o corpo
como cortes profundos
que nunca vão sarar;


Maria do Rosário Pedreira

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Vem


Nesta brisa quase suave
de plantas já anoitecidas
quase te toco entre as regas,
e entristeço.
A tua ausência é tão real
como os vastos campos de girassóis
secos, envelhecidos, quase mortos.
Alugo a voz e a expressão
a par de todos os espaços
deste lugar que se inicia.
Tudo isto é simples:
tenho o coração desarrumado.
Vem

Filipa Leal,

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Respiro o teu corpo


Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


Eugénio de Andrade

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Como o direi?


Em que idioma te direi
este amor sem nome
que é servo e rei?

Como o direi?

Como o calarei?


Albano Martins

Limpar o coração

Todo dia, quando acordo,
vou correndo tirar poeira da palavra amor


Clarice Lispector


segunda-feira, 2 de novembro de 2009