domingo, 2 de fevereiro de 2020

resta-nos continuar a teimar



O martelo acertou onde não devia, mau grado os esforços para uma pancada firme e precisa. Este último ponto, admito, é controverso. A vida é sobretudo desequilíbrio em movimento, circo precipitado de forças, embate, ricochete, crise, acomodação. Pouco mais do que teimosia, seguindo o raciocínio, a ideia de um esforço concentrado, dirigido. Um martelo e um prego, por exemplo, e uma recta certeira a uni-los. Não obstante, resta-nos continuar a teimar, é aqui que a lógica se complica e na razão se encrava a perfeita teoria. Mas, regressando ao martelo, não acertou no prego, não acertou no dedo, não acertou no estuque liso da parede. Onde acertou afinal? O certo é que ficou a doer. Essa certeza basta à poesia. 






 Jorge Roque
 (Foto de Natalia Drepina)

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