Não digas que conheces minhas dores
Deixas-me com meus desamparos
Não sabes do estio dos meus lábios
E das marcas que abraçam minha solidão
Pedaços de ti que arranham meu corpo
Não penses que é melhor assim
Nem pressuponhas que a saudade finda
Como se o teu silêncio e deserção
Apagassem o perfume do desejo
Ou a inquietude de sentir-te em mim
Não me obrigues a entender a crueldade
Prefiro ignorar esta estrada que dizes destino
Não quero dar-te ao esquecimento dos sentidos
Nada sei destas trilhas em que sucumbes
Soterrado pelos passos que te negas
Não me convides às tuas renúncias
Nem me batizes nestas águas
Que sangram e definham teu peito
Tenho ardores de vida que me cingem
Férteis à espera que te resgates de ti
Não me amputes de mim, dos meus sonhos
Nem me indiques tuas confortáveis saídas
Prefiro o rasgar de entranhas, a febre do sentir
Ao discurso patético do conformismo
Lanço à fogueira, a impotência, o desistir
Sim, hoje estou em carne viva
Palavras à flor da pele, despindo-se
Ainda que seja este um grito confinado
Ao subterrâneo do meu mundo
Este que já não te alcança.
Fernanda Guimarães
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