domingo, 28 de julho de 2024

o amor em visita



 

Em minha defesa, as suas mãos. Em minha defesa, os seus braços. 
Em minha defesa, o modo como sentados ficávamos somente a ouvir a respiração um do outro,
 ele disse, isto chega. O meu corpo era uma casa que eu fechara para o inverno. 
Não devia ter sido assim tão difícil, vazia que ela estava. 
Ainda assim, olhei longamente antes de apagar as luzes. 
 O meu corpo era construção abandonada, andaimes de restauração que se tornaram permanentes.
 O meu corpo inacabado tornou-se o meu corpo acabado. 
Pelo que, em minha defesa, quando ele me tocou as luzes do meu corpo acenderam.
 Em minha defesa, as janelas abriram de par em par.
Em minha defesa primavera

 







Cristin O'Keefe Aptowic

quarta-feira, 24 de julho de 2024

à flor da pele




Uma demora lenta nas palavras
 um calor bom na palma das mãos
 uma maneira de gostar das pessoas e das coisas 
sem tolher movimentos ou forçar as superfícies 
beber aos golinhos o café a ferver
 ou o whisky chocalhado com pedrinhas de gelo 
viver viver roçando as coisas ao de leve 
sem poupar o veludo das mãos e do corpo 
sem regatear o amor à flor da pele
 olhar em torno de si perdida ou esperar o verão
 e saber de um saber obscuro que o calor 
todo o calor é de mais dentro que vem 






 Rui Caeiro
(Foto de Laura Makabresku)

terça-feira, 16 de julho de 2024

silêncio




Há que fazer
 uma ampliação
 nesta casa
 já não há onde 
guardar 
tanto silêncio 





 Carmen Gloria Berríos
 (Traduzido por Maria Sousa)

terça-feira, 9 de julho de 2024

a luz



 

A luz do ar; 
a luz da brisa; 
a luz da ausência de companhia humana;
 a luz da hesitação; 
a luz da vontade de dormir; 
a luz de ter uma língua em que uma parte escurece; 
a luz de ir contra o risco do tempo; 
a luz de terminar a frase 







Maria Gabriela Llansol,