Perdi uma perna, ou um braço.
Ou o tronco na íntegra.
A sensação vazia de um espaço esponjoso que ocupa exponencialmente a
caixa torácica.
Perdi os dedos, as mãos.
O corpo fustigado na guilhotina áspera das palavras. Aquele volume poroso
encurtando-me os alvéolos em nebulosas vítreas.
O corte.
Perdi os olhos e a boca.
Ou o cheiro tenro das primaveras que soletram o rasgo etéreo do Amor no
papel.
Perdi o barco, o comboio, a imensidão das águas e das terras. A vida num
impasse de esperas. Viagens que não conheceram outro feito senão o enfeite
dos meus dedos.
Alice Turvo
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