Procuro o maço de cigarros na carteira, fumar mata, em letras enormes, de um lado, do outro, fumar causa o envelhecimento da pele, se por um acaso não morrer, se me der para ser eterna, tenho direito a uma indemnização já que me asseguraram que fumar mata, desde quando é que todas as coisas desataram a falar, a estrada, conduza com prudência, respeite a margem de segurança, se conduzir não beba, imagino qualquer dia o hall de um prédio, se tiver uma vizinha boazona por favor não a apalpe, ou, apalpar vizinhas depende da autorização prévia do condomínio que reserva o direito de, outro aviso, quando pisar merda de cão na rua não limpe os sapatos no capacho do vizinho, procure antes os capachos de outros prédios, acendo o cigarro, hoje à tarde o banco, subscreva um plano poupança habitação, um plano poupança reforma, qualquer dia o banco, subscreva um plano infalível de assalto à mão armada, pode ainda subscrever os complementos especial perversidade, ou fuga para país tropical, a farmácia onde ontem fui comprar pingos para o nariz, já não se usa morrer de amor, use preservativo, vigie o seu colesterol, meça a sua tensão, beba um litro e meio de água por dia, evite as gorduras, faça exercício, a farmácia e o rol de conselhos, não acho bem que as estradas, os bancos, as farmácias, as roupas, tenham desatado a falar, os disparates dos falantes tradicionais chegavam
Dulce Maria Cardoso