O que quero dizer é isto: estes ramos
que saem da parede, e se estendem pelo
muro até ao fim do quintal, trazem-me
os frutos da tarde. Abro-os: os gomos
húmidos dos teus lábios, as grainhas
que saltam das frases, e se espalham
pelo chão, a macia polpa dos dedos
que procuram o sexo da noite, agora
que é tarde para encontrar o caminho
do regresso. E lembro-me de tudo. A lua
posta nos teus seios como a branca
medusa dos fundos. O beijo árido da
luz que salta da janela, quando a abro,
e dou com a lâmpada agonizante da
madrugada. Não te acordo. Os teus
cabelos estendem-se pelo travesseiro
do desejo, caem da cama, estendem-se
pelos rodapés da memória até ser dia,
e a tua nudez saltar de dentro de mim.
Nuno Júdice