sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Despertar


O que quero dizer é isto: estes ramos que saem da parede, e se estendem pelo muro até ao fim do quintal, trazem-me os frutos da tarde. Abro-os: os gomos húmidos dos teus lábios, as grainhas que saltam das frases, e se espalham pelo chão, a macia polpa dos dedos que procuram o sexo da noite, agora que é tarde para encontrar o caminho do regresso. E lembro-me de tudo. A lua posta nos teus seios como a branca medusa dos fundos. O beijo árido da luz que salta da janela, quando a abro, e dou com a lâmpada agonizante da madrugada. Não te acordo. Os teus cabelos estendem-se pelo travesseiro do desejo, caem da cama, estendem-se pelos rodapés da memória até ser dia, e a tua nudez saltar de dentro de mim.


Nuno Júdice