domingo, 31 de agosto de 2014

Os braços desertos



os pássaros soterraram agosto
 e sem lugar um homem cega pela janela
 o mar que jura ter tocado com o sangue
 podia ter sido o amor se não tivesse vindo 
tão directamente da sede
 um duplo rosto de enganos e os braços
que saíram desertos 
o eco da morte reverbera na pele 
com que vejo a tua ausência encher as ruas
 um choro de papel cai pela terra 
e nunca foi tão tarde ser depois
 daqui onde o grito surdo incendeia 
a refutação da madrugada
 donde o crânio esmaga o coração
 um homem corta pela janela
 a própria certeza de ter sido

não é tarde demais para uma manhã
 que foi a enterrar em tantas noites

as escadas morreram de sede 
a terra caiu em nunca

podes levar os dias que trouxeste 





Pedro Sena-Lino