Os cães dormem finissimamente. Vejo-os resumidos em
torno do chão, peneirando serenos as dunas do sono. Já
eu, reproduzo a insónia de uma forma quase fabril: de hora
em hora, de noite em noite. É a metalurgia de algo que não
funde, eu e a fornalha das minhas burlas, dos meus
prejuízos. Entendo que cada homem, superando o receio
de excomunhão, devolva o seu corpo à indiscrição. Corpo
no mundo como rusga. Revirar tudo, farejar como os cães
a flor absurda do prazer.
Vasco Gato
(Foto de Laura Makabresku)