terça-feira, 4 de novembro de 2014

Rusga



Os cães dormem finissimamente. Vejo-os resumidos em
 torno do chão, peneirando serenos as dunas do sono. Já 
eu, reproduzo a insónia de uma forma quase fabril: de hora 
em hora, de noite em noite. É a metalurgia de algo que não
 funde, eu e a fornalha das minhas burlas, dos meus 
 prejuízos. Entendo que cada homem, superando o receio
 de excomunhão, devolva o seu corpo à indiscrição. Corpo
 no mundo como rusga. Revirar tudo, farejar como os cães
 a flor absurda do prazer. 





 Vasco Gato
 (Foto de Laura Makabresku)