segunda-feira, 11 de setembro de 2017

um homem de coração prefácio à espera de ser escrito




Tragam-me um homem que me levante com
 os olhos
 que em mim deposite o fim da tragédia
 com a graça de um balão acabado de encher
 tragam-me um homem que venha em baldes, 
solto e líquido para se misturar em mim 
com a fé nupcial de rapaz prometido a despir-se
 leve, leve, um principiante de pássaro
 tragam-me um homem que me ame em círculos
 que me ame em medos, que me ame em risos 
que me ame em autocarros de roda no precipício 
e me devolva as olheiras em gratidão de 
 estarmos vivos 
um homem homem, um homem criança
 um homem mulher
 um homem florido de noites nos cabelos 
um homem aquático em lume e inteiro
 um homem casa, um homem inverno
 um homem com boca de crepúsculo inclinado 
de coração prefácio à espera de ser escrito
 tragam-me um homem que me queira em mim 
que eu erga em hemisférios e espalhe e cante
 um homem mundo onde me possa perder
 e que dedo a dedo me tire as farpas dos olhos
 atirando-me à ilusão de sermos duas 
 novíssimas nuvens em pé. 








 Cláudia R. Sampaio
 (Foto de Laura Makabresku)

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