sábado, 3 de novembro de 2018

as coisas que cortam



Onde é que pões as coisas todas que lês?
 - perguntas-me após o aguaceiro 
enquanto o céu se acende com relâmpagos
 tardios. Azul cobalto com cinza. Eu estou sentado
 à hindu e espreito lá do divã. Onde é que as ponho? 
Umas acabam nos escombros 
vem o camião na última sexta de cada mês
 e leva os tapetes falsos 
os cadeirões rachados, os brinquedos coxos. 
Umas prendem-se nos fios, outras 
leva-as o vento e enterra-as na areia.
 Ficam as coisas que não deixam em paz
 as coisas que cortam, que magoam
 as que escavam galerias
 as coisas que gorjeiam e reluzem
 as coisas vivas
 as coisas. 







 Alberto Nessi
(Foto de Nishe)

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