sexta-feira, 21 de maio de 2021

nada mais que um coração


 

Para que o guardasse
 no cofre do peito confiaste-me 
o teu coração. Mas todos 
me disseram que era apenas um coração, 
nada mais que um coração. De modo 
que fui fraco, vil, cedi,
 e deixei que mo levassem. Por trinta moedas. 
Agora arrasto-me por tabernas infectas 
a pagar, rodada após rodada, 
copos cheios de fel aos que, 
com a sua miséria solitária,
 fazem companhia à minha miserável 
 solidão. O álcool não dilui porém
 uma gota sequer da cicuta 
do remorso. Pelo contrário:
só lembra, a quem quer esquecer,
 que Roma não perdoa a traidores.









Luís Filipe Parrado
(Foto de Natalia Drepina)

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