sexta-feira, 25 de outubro de 2024

o único poema



 

Não sei por onde andas agora 
lembro-te cada vez mais longe
 em dias assim, de chuva, de noite
 fechado nisto que não mudou 
Vejo-te às vezes por essas ruas
 se por acaso chega o Outono
 ou dores antigas e maiores 
vejo-te às vezes por essas ruas
 E digo adeus, sincero, míope
 as sílabas todas do teu nome
 o único poema que sei de cor
 e grito cada vez mais longe 







Nuno Camarneiro

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

terça-feira, 15 de outubro de 2024

diários





Toda la noche me abandonas lentamente como el agua cae
 lentamente. Toda la noche escribo para buscar a quien me busca. 

 Palabra por palabra yo escribo la noche 







 Alejandra Pizarnik

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

era




Era um pássaro alto como um mapa
 e que devorava o azul 
 como nós devoramos o nosso amor. 

Era a sombra de uma mão sozinha
 num espaço impossivelmente vasto 
 perdido na sua própria extensão. 

Era a chegada de uma muito longa viagem 
 diante de uma porta de sal
 dentro de um pequeno diamante. 

Era um arranha-céus
 regressado do fundo do mar. 

Era um mar em forma de serpente 
 dentro da sombra de um lírio. 

Era a areia e o vento 
 como escravos
 atados por dentro ao azul do luar. 







 Artur do Cruzeiro Seixas

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

o amor



 

o amor é o telefone a tocar, 
a mesma voz 
ou outra voz 
 mas nunca a voz
 certa






 Charles Bukowski

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

o vento




Hay que salvar al viento 
los pájaros queman el viento
 en los cabellos de la mujer solitaria 
que regresa de la naturaleza
 y teje tormentos 
Hay que salvar al viento





 Alejandra Pizarnik
 (Foto de Laura Makabresku)