Era um mês incerto, havia vento,
eu não teria nascido ainda,
ou já teria morrido.
A fronteira entre luz e sombra
era muito difusa.
Então
estranhamente o sol pousou
naquele corpo.
Corpo que nunca
vira despido, que cheirava
a maçãs maduras,
com brilhos que desciam
às negras sementes da vida.
Estranhamente o sol demorou-se
nos seus ombros.
Um último
brilho, ou suspiro, desprendeu-se.
O ar tremia – apesar disso eu era feliz,
Tinha dez ou mil anos, já não sei.
Eugénio de Andrade