domingo, 2 de dezembro de 2012

Preocupações naturais


Eu não tinha muita coisa e hoje tenho a soma dos teus passos quando desces a correr os nossos treze degraus e me prometes: até logo. Mas se nada (ou só o nada) está escrito, quem mais ama é quem mais tem a recear. Com isso, passo as horas num rebate de dramáticos motivos: engano-me na roda dos temperos, ponho sal na cafeteira, maionese no saleiro, vejo o mel mudar de cor e se me chama o telefone empalideço como o rosto do relógio da cozinha. Só sossego quando as gatas me garantem que chegaste e posso então, aliviado, unir-me ao coro de miaus que te recebe, para mais uma noite roubada ao escuro


José Miguel Silva