quinta-feira, 5 de março de 2015




Vou pôr um anúncio obsceno no diário
 pedindo carne fresca pouco atlética 
e nobres sentimentos de paixão. 
Desejo um ser, como dizer, humano 
Que por acaso me descubra a boca
 e tenha como eu fendidos cascos 
bífida língua azul e insolentes
 maneiras de cantar dentro de água. 
Vou querer que me ame e abandone
 com igual e serena concisão 
e faça do encontro relatório 
ou poema que conste do sumário 
nas escolas ali além das pontes
 E espero ao telefone que me digam 
se sou feliz, real, ou simplesmente 
uma espuma de cinza em muitas mãos. 





 António Franco Alexandre
 (Foto de Nishe)