quinta-feira, 11 de junho de 2015





Guardava alguns silêncios e também as coisas
 que não dissera por acaso. Guardava agora também
 esses acasos, brancos recados entre as palavras
 que lhe sobravam nas gavetas. E ainda assim guardaria
 para sempre essas palavras, ou a imagem de lábios a 
dizê-las ― um rosto ainda sem ser triste lembrando o verão 
 Teria aguardado esse verão, o cheiro quente dos morangos
 à beira os dedos. E tê-lo-ia sobretudo guardado,
 como guardava agora, sem nunca o ter ouvido, o som
 das espigas, na planície, à passagem do vento. 
 Mas agora só podia aguardar a passagem do tempo 
sem palavras; ou um vento de feição, um acaso
 que tudo justificasse. E no silêncio em que se ia guardando 
buscava apenas um lugar mais sereno para as memórias. 





 Maria do Rosário Pedreira
 (Foto de Laura Makabresku)