quarta-feira, 2 de setembro de 2015




Entraste na noite
 pelo lado da solidão. 
A ela contas que sais com eles 
a eles que sais com ela. 
Encaminhas o velho Renault 4 
para certo lugar desabitado 
da cidade.
 Fizeste entrar um corpo, 
acenderam um cigarro enquanto 
procuras um retiro pelas sombras. 
Silencias a sua voz quando quer falar-te, 
com um gesto decides
 forma de desejo. 
Entraste num corpo 
pelo lado da solidão.
 Por um instante sentiste-te bem
 mas não o dizes, 
embora não consigas reprimir
 uma carícia no vidro embaciado. 
Atrás da porta que fechou deixa-te 
um rastro de perfume ignóbil
 que aspiras com deleite: 
como o símbolo o queres 
para quando queimar a claridade 
da manhã.





 José Ángel Cilleruelo
(tradução de Joaquim Manuel Magalhães)