Os meus dedos já souberam
de cor a perfeição.
A morte era o menos.
Só a beleza nos parecia intolerável
se não a despedaçássemos,
voz por voz, compasso a compasso,
numa harmonia mais dócil. Menos urgente
do que os músculos que ensaiávamos
todos os dias sem nos tocarmos.
Agora ouço outras mãos
a tactear o mesmo mistério e
é como segredar, pianississimo,
ao ouvido de alguém demasiado longe,
quando afinal adormeceste apenas
dentro de mim, com as garras
cravadas ao de leve na memória
Inês Dias
(Foto de Natalia Drepina)