segunda-feira, 2 de novembro de 2015




Os meus dedos já souberam de cor a perfeição. 
 A morte era o menos. 
Só a beleza nos parecia intolerável 
se não a despedaçássemos, 
voz por voz, compasso a compasso, 
numa harmonia mais dócil. Menos urgente 
do que os músculos que ensaiávamos 
todos os dias sem nos tocarmos.
 Agora ouço outras mãos
 a tactear o mesmo mistério e
 é como segredar, pianississimo, 
ao ouvido de alguém demasiado longe, 
quando afinal adormeceste apenas
 dentro de mim, com as garras
 cravadas ao de leve na memória






 Inês Dias
 (Foto de Natalia Drepina)