quarta-feira, 4 de novembro de 2015




Se um dia me pedires, 
juro que te empresto 
o meu coração, tal como 
 guardei na boca o pequeno deus
 que te trazia tão curioso. 
A sério. Deixo-te tocar nele,
 sentir-lhe o peso, atirá-lo 
 contra a parede para depois
 o apanhares e retirares a pele 
de pêssego demasiado maduro. 

 Podes até queimá-lo - 
 com cuidado, por favor - 
 quando estiver mais frio; 
ou enterrar os restos debaixo
 das estrelícias, de propósito 
por saberes que não as suporto. 
Em troca, promete-me apenas 
 que depois me deixas fugir 
para saber como é isso de
 passar o resto da vida desembaraçada 
 finalmente desse peso morto. 






 Inês Dias
 (Foto Christian Schloe)