terça-feira, 26 de junho de 2018

e eu fico a arrumar as minhas mãos



Sónia Silva 


Ofereces-me uma pedra negra mágica que trazes do norte
 e as minhas palavras e as minhas mãos detêm-se sem saber
 por quanto tempo irão ficar na soleira da noite e do dia 
 tacteamos os corpos em busca de memórias adormecidas
 ocultas por sucessivas camadas de palavras por dizer
 deslizamos para o chão sem resposta e o fumo sobe 
 equilibra-se em nuvem sobre as nossas cabeças e evola-se
 em direcção a uma lua vermelha momentaneamente apagada
 ao som de bob marley fazes as malas e partes e eu fico
 a arrumar as minhas mãos e as palavras atrapalhadas
 no fumo desorientado pela ausência de um ponto cardeal
 junto cuidadosamente os teus cabelos rubros perdidos 
 entranço uma bola de fogo e guardo-a na memória 
 acendo uma dúzia de paus de incenso e imagino uma igreja
 de adoradores do silêncio que escorre por entre as preces
 a tua pedra negra regressa à minha mão fechada
 e ilumina como um sol a minha noite em claro 

Virás por uma palavra? 






 Carlos Alberto Machado

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