segunda-feira, 12 de agosto de 2019

malha morta



é segunda faço sopa
 é terça mudo de roupa 
não sei se mudo de pele
 quando à quarta vou com ele 
se à quinta corto as veias
 à sexta estou sem ideias 

 sábado levanto e calo 
domingo acordo e falo, sempre com algum atraso
 é tarde no meu buraco 
faço de conta que esqueço
 aquilo que não mereço 

 sinto-me tal qual 
uma velha canção
 sinto-me tal qual
 um refrão que odiei

 à segunda aperto o laço
 do garrote que a mim faço
 à terça espero que passe
 à quarta uso disfarce 
na quinta ponho um vestido
 à sexta perco o sentido

 a dias me sinto suja
 o que lavo vira negro
 não sei porque continuo 
esta malha em segredo 
faço de conta que esqueço
 aquilo que não conheço

 sinto-me mal qual 
uma velha canção
 sinto-me mal qual refrão que odiei 






 Ana Deus
(Foto de Monia Merlo)

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