quinta-feira, 29 de agosto de 2019

agosto amarga



Não tardará a chegar ao fim 
este agosto que te viu passar com a luz
 a teus pés. Somos eternos, dizias. 
Eu pensava antes na danação
 da alma ao faltar-lhe o alimento 
que lhe trazias. Agora a cidade vive
 do peso incomensuravelmente morto
 dos dias sem a tua presença. Deixo 
a mão correr sobre o papel tentando 
captar o eco de uma palavra,
 um sinal de quem em qualquer parte
 cintila, e confia ao vento o segredo 
da nossa tão precária eternidade.







 Eugénio de Andrade

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