Quando atirei a minha roupa suja para a cave
esqueci-me que guardava um punhado de ideias no bolso de trás das calças,
quanto tirei a roupa da máquina de lavar encontrei-as espalhadas
em pedaços de papel totalmente ilegíveis.
Desde essa altura tudo me sussurra que estou louca
porque rezo no oposto a um deus que já não existe,
e porque me aparecem estigmas nas mãos
e me vêm ver desconhecidos que comigo passam as noites.
As minhas palavras afogaram-se em saponária
e não consigo encontrar-lhes o rasto na minha cabeça.
As letras que surgiram dos meus dedos que anotei nos papéis que guardei no meu bolso
eram a minha direcção, o meu nome, o título de um livro,
as línguas que falo, as coisas que não digo.
Eram fórmulas mágicas para sobreviver ao quotidiano,
como abrir o correio e dar os bons dias,como não abrir a porta ao homem sedutor
que nunca se reflecte nos espelhos.
Tudo o que anotava eram pequenas pistas que seguia para juntar as partes do meu corpo,
para não me enganar e para saber quem sou sem ter que pensar duas vezes.
Ana Merino
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