domingo, 2 de agosto de 2020

peças de puzzle



Vou passando às cambalhotas por este fim de tarde
 como uma dúvida à procura do seu ângulo recto.
 Organizo milhares de peças de puzzle, 
reconstruindo mundos perdidos 
com a imagem virada para baixo. 
Transformo as soluções em enigmas. 
Desloco eras, 
reavivo vulcões, 
erijo à volta de um par de mamas, 
escolas de arquitectura, 
histórias de sobrevivência, 
bocas secas, 
dentaduras postiças. 
 Do armário, chega-me 
como um hieróglifo sonoro de uma dor remota,
 o assobio intermitente
 de um rato. Nada nos une, penso,
 a não ser esta janela falsa
 na câmara de gás. 
Passo a mão pela frente molhada,
 mudo, à pressa, 
os lençóis à ilusão
e fico, outra vez, à espreita. 
Seria tanto mais fácil esperar pela eternidade 
se, ao menos, houvesse alguma mini no frigorífico. 







 Golgona Anghel
 (Foto de Monia Merlo)

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