domingo, 20 de abril de 2014

O terceiro dia



Também eu ceei com os doze naquela ceia 
 em que eles comeram e beberam o décimo terceiro. 
 A ceia fui eu; e o servo; e o que saiu a meio; 
 e o que inclinou a cabeça no Meu Peito. 
 E traí e fui traído. 
 e duvidei, impacientemente, e descartei-me; 
 e pus com Ele a mão no prato e posei para o retrato
 (embora nada daquilo fizesse sentido). 
 Não subi aos céus (nem era caso para isso), 
 mas desci aos infernos (e pela porta de serviço):
 comprei e não paguei, faltei a encontros,
 cobicei os carros dos outros e as mulheres dos outros. 
 Agora, como num filme descolorido, 
 chegou o terceiro dia e nada aconteceu, 
 e tenho medo de não ter sido comigo, 
 de não ter sido comido nem ter sido Eu. 





 Manuel António Pina