terça-feira, 7 de julho de 2009

Ternura



Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,

acordarei entre os teus braços.

a tua pele será talvez demasiado bela.

e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.

um dia, quando a chuva secar na memória,

quando o inverno for tão distante,

quando o frio responder devagar como a voz arrastada de um velho,

estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela.

sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa minha,

porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra,

nem o princípio de uma palavra,

para não estragar a perfeição da felicidade


 José Luís Peixoto