sábado, 11 de abril de 2015




Há mil portas atrás 
 quando eu era uma miúda solitária 
numa casa grande com quatro
 garagens e era verão
 desde sempre, 
da noite deitada na relva, 
com os trevos a enrugarem-se por cima de mim 
as estrelas sábias deitadas sobre mim,
 a janela da minha mãe um funil 
de calor amarelo a escorrer 
a janela do meu pai, meia fechada,
 um olho onde adormecidos passavam, 
e as tábuas da casa 
eram macias e brancas como a cera 
e provavelmente um milhão de folhas
 velejavam nos seus caules estranhos 
enquanto os grilos faziam tiquetaque em uníssono
 e eu, no meu corpo recém estreado, 
que ainda não era o de uma mulher, 
dizia às estrelas as minhas perguntas
 e pensava que Deus poderia mesmo ver 
o calor e a luz pintada, 
cotovelos, joelhos, sonhos, boa noite





 Anne Sexton