sábado, 18 de abril de 2015




foi um dia, e outro dia, e outro ainda. 
só isso: o céu azul, a sombra lisa, 
o livro aberto. 
e algumas palavras. poucas, 
ditas como por acaso.

eram contudo palavras de amor. 
não propriamente ditas,
 antes adivinhadas. ou só pressentidas. 
como folhas verdes de passagem. 
um verde, digamos, brilhante, 
de laranjeiras. 
foi como se de repente chovesse:
 as folhas, quero dizer, as palavras
 brilharam. não que fossem ditas, 
mas eram de amor, embora só adivinhadas. 
por isso brilhavam. como folhas
 molhadas. 





Eugénio de Andrade