quinta-feira, 29 de novembro de 2018

só se for o coração



Olhe, preciso de dinheiro. 
Preciso de muito dinheiro. Quero abrir um negócio. 
Algo meu, sabe como é. Estou farto de patrões. 
Não posso passar a minha vida atrás de um balcão.
 A levar todas as noites com a baba dos perdidos nas trombas. 
Já não tenho paciência. 
Com esta idade, já viu o que é. 
Sujeitar-se a todos os labregos. 
Já tentei noutros bancos, sim.
 Pedi também aos meus pais, é verdade; 
disse-lhes que era para me casar. 
Não, não tenho casa, nem automóvel. 
Mas, olhe, posso garantir com o meu corpo. 
O meu fígado, senhor, tem que ver o meu fígado. 
É fígado de motard. Isto parece encolhido e tal, 
mas anda a mil. 
E adiantado, não pode pagar nada como entrada?
 Entrada, não sei. 
Só se for o coração. 





 Golgona Anghel

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