Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus
domingo, 2 de maio de 2010
Mãe
... Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
Mag, Almada Negreiros instantaneamente (e)leva-me o pensamento a Fernando Pessoa, numa felicidade instantânea também: ligados os nomes no meu sentimento de português nascido no Brasil. Portugal, esse país que amo como um segundo útero. E o texto, adequadamente, fala de mãe... Sempre um prazer de irmão visitar-te, Magnólia, quanto mais encontre aqui o Jorge Pimenta, da minha mais alta admiração, e a Zélia Guardiano, tão delicada e sensível a nós, entre outros que nos fazem família blogosfera adentro...
Mãe: Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio.
Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!
Lindo demais! A delicadeza, a sensibilidade explodindo...
ResponderEliminarParabéns Magnolia!
Beijos
PS-Fiquei felicíssima com sua visita! Volte sempre...
Obrigada
Poema à Mãe
ResponderEliminarNo mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade
Beijos para todas as mãe e para ti, Magnólia!
A mais bela e pura das verdades!!!
ResponderEliminarBeijos
AL
Obrigada Zelia
ResponderEliminarBeijo
Al, doce verdade
ResponderEliminarBeijo
Jorge esse foi o poema que eu quase deixei por aqui...
ResponderEliminarGosto demasiado dele...
Obrigada
Beijo
Mag,
ResponderEliminarAlmada Negreiros instantaneamente (e)leva-me o pensamento a Fernando Pessoa, numa felicidade instantânea também: ligados os nomes no meu sentimento de português nascido no Brasil. Portugal, esse país que amo como um segundo útero. E o texto, adequadamente, fala de mãe...
Sempre um prazer de irmão visitar-te, Magnólia, quanto mais encontre aqui o Jorge Pimenta, da minha mais alta admiração, e a Zélia Guardiano, tão delicada e sensível a nós, entre outros que nos fazem família blogosfera adentro...
Ótima tarde de domingo,
Pedro Ramúcio.
E este então, Magnólia:
ResponderEliminarMãe
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga, in 'Diário IV'
Arrepiante, verdade?
É imenso este Torga.
Beijinho!
È lindo, Jorge...e confesso que não conhecia
ResponderEliminarObrigada
Beijo