segunda-feira, 20 de julho de 2015




A esperança é uma puta 
gorda, sentada esta noite
 numa cadeirinha de bonecas 
azul-Estádio. Incharam-lhe os pés 
de tanto buscar e balouça
 os sapatos ao descompasso 
de canções em que o nome
 nunca é o seu. 
 Exige pré-pagamento, 
garante que sai sempre 
como a sorte que nem sempre tem,
e depois cobra a fé por impulso, 
tapa o silêncio com luzes 
de natal, um vestido inflamável,
 gargalhadas de ponta e mola. 
 Cá fora as pombas adormeceram 
aplicadamente à espera de um sol igual,
 há constelações desmanchadas
 no asfalto. Ela é a última espectadora 
de mais uma última sessão, 
mas a tristeza continua emboscada, 
a tocar de costas para o mundo. 
 Apanha do chão uma ideia deixada a meio,
 acende-a, hesita por instantes 
 se serão mais estrangeiros os turistas, 
os imigrantes que prometem especialidades 
de um país que não é o seu nem este,
ou ela própria. Não regressa
 a casa com ninguém: 
volta a guardar-se inteira numa mala, 
só para se poder perder de vez. 






 Inês Dias