quinta-feira, 5 de março de 2020

um pássaro



Tenho um pássaro empoleirado no ombro, 
um pássaro-gémeo, um pássaro que nasceu comigo. 
Cresceu tanto, ficou tão pesado,
cada passo que dou é uma tortura. 

 Um peso morto, um peso morto, um peso morto sobre mim. 
Devia deitá-lo ao chão - é tenaz, 
as suas garras cravam-se no meu ombro 
como as raízes de um carvalho. 

 A um palmo do meu ouvido: o som 
do seu horrível coração de pássaro a palpitar. 
Se um dia levantar voo 
cairei logo por terra. 






 Àgnes Nemes Nagy
 (Foto de Laura Makabresku)

1 comentário:

  1. Que esse pássaro fixe residência em seu coração e jamais levante voo

    Fiquei seguidor

    Cumprimentos poéticos

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