quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Fim de Ano


Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
AMOR


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Boa Noite




Dizias-me:
«Adeus, até amanhã.»

E eu não te dizia:
«Estou a morrer
de amor... Estou a morrer
.

Antonio Gala

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

domingo, 26 de dezembro de 2010

Oferenda



Todos os gestos do meu corpo e voz para fazer de mim a oferenda, o ramo que o vento abandona no umbral.


Alejandra Pizarnik

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Do frio dos dias

[...]
Chegaste mais cedo
Com olhos de viagem
E mãos de urgência

[...]

Rosa Lobato Faria

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Da Solidão




Gostava de estar sempre ao pé de ti
mas nunca estou mais perto do que quero
do que longe de ti quando a ti te desejo.
De dia embrulho-te num vestido escuro
para olhos estranhos me verem.
Quero ser sombra se tu estiveres ausente
tal como tu és sombra ao pé de mim.
desde que te amo estou só completamente.


Ulla Hahn

domingo, 19 de dezembro de 2010

Fogo Posto

O meu corpo, por onde quer que vá,
espalha incêndios que não me recordo como apagar...


Sergio Xarepe

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Digo-te


E eu digo: “abraça-me”. E os teus braços fazem-se.
E eu digo: “abrasa-me”. E tu fazes-te em braços.

Joana Serrado

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Saudade



Há palavras como tecido
incapaz de conter a explosão da pele






Nelson d" Aires

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dias Assim


Todos os relógios estavam do teu lado
eu só tinha a minha torre de espelhos
só tinha a noite e o silêncio
e nenhuma escada

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Poemas perfeitos em noites escuras


É na escura folhagem do sono
que brilha
a pele molhada,
a difícil floração da língua.


Eugenio de Andrade


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Fogo posto




Teu corpo seja brasa
e o meu a casa
que se consome no fogo




Alice Ruiz

domingo, 5 de dezembro de 2010

Promessas


Eu toco-me e pronuncio o teu nome
e enquanto ardo prometes sempre que voltas.
Não tenho a certeza, meu amor.
O mundo é um animal ofegante cujo hálito contém a perdição das rosas.





José Agostinho Baptista

sábado, 4 de dezembro de 2010

Viagens secretas


Da viagem secreta ao fundo do coração trouxe um sono vertiginosamente profundo. a água e o ópio a ausência e o ritual a epígrafe e o punhal a prece e a pressa de partir. amadureço este inverno que é segredo. e o óbvio é uma oração em rodapé





Isabel Mendes Ferreira

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Inverno




Num ímpeto
deitei sobre teu corpo
meu casaco

É inverno
veste-me com teus braços
dá-me conforto




Líria Porto

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Hoje


Assim é a minha vida
Hoje, só os desertos me conhecem.
Nada mais

Jose Agostinho Baptista

domingo, 28 de novembro de 2010

sábado, 27 de novembro de 2010

Diz-me


São os dedos que tocam as flores,
ou são estas que delicadamente pedem às mãos um gesto de caricia ?




Albano Martins

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Perguntas


O que magoa mais na solidão?
a ausência (do outro)
ou a (nossa) presença?

Pedro Jordão

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Abandono

E abandonaste-me .
Num deserto que não conhecia.
Com uma casa inteira para percorrer com os meus passos por dentro da noite.
Ou fui eu quem te abandonou?



Casimiro de Brito

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Onde estou


Alguém procura onde eu estou só, e encontra
o campo desbaratado
e branco da sua solidão.




Herberto Helder

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nada me pertenceu



Tu não me pertenceste - e, se uma vez acreditei que
acontecias dentro do meu corpo, das outras vi-te abraçar a
solidão com tanto ardor que concluí ser a memória quem
te mantinha vivo.
O meu coração, contudo, sempre te pertenceu
E a mão desesperada que o procura não sente bater longe do teu peito




Maria do Rosário Pedreira

sábado, 20 de novembro de 2010

Não deixes

Não deixes que o meu rosto se dissolva nas tuas mãos,
insiste no meu nome até que o mar ascenda à tua boca.





Vasco Gato

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Noites Assim

Despe-me
ou deixa que eu me dispa
e depois veste-me
pouco a pouco
de carícias

Luís Ene

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Por vezes


Algumas portas fecham-se ao mesmo tempo que se fecham os corações.
Alguns ficam entalados.





Pedro Jordão

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Poema por ti


No espaço do meu corpo há um cheiro de maça verde
e eu habituei-me a esperar-te inteira
à beira do tempo enquanto as esquinas se dobram de espanto
Tu és a certeza nesta viagem pelo amanhecer tranquilo
em que a madrugada se despe das palavras quietas que cheiram a ti
Eu sou a incerteza da partida que sabe a desejo

Antonio Sem

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sinal vermelho


É sempre a mesma curva cega, neste troço de pedra lascada,
não há como escapar às primeiras chuvas
ao piso escorregadio dos olhos,
despiste, falésia mortal,
o coração não entende sinais vermelhos





Renata Correia Botelho

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dias Assim

Se me esfolassem agora
encontrariam o teu nome
colado num dos meus ossos

De mim, continuariam a nada entender





Manuel Cintra

sábado, 13 de novembro de 2010

Gotas de colírio



...E de poemas

Os teus lábios parados eram a noite, o abismo e o silêncio das ondas paradas de encontro às rochas. O teu rosto dentro das minhas mãos. Os meus dedos sobre os teus lábios e a ternura, como o horizonte, debaixo dos meus dedos. Os meus lábios a aproximarem-se dos teus lábios, a aproximarem-se dos teus lábios, a aproximarem-se dos meus lábios... teus lábios.

José Luís Peixoto

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Rouba-me



tira-me daqui.
leva-me a ver algo que não exista e não me devolvas.
rouba-me com loucura e sem pensar em mais nada









Valter Hugo Mãe

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Noites Assim



É à noite que o silêncio me grita a tua ausência
e o coração galopa imagens de ti
tão perto
tão longe







António Cardoso Pires


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sou

Sou a tua fala, a tua língua, o teu silêncio







Eduarda Chiote

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sabes


sabes que o amor é feito de coisas bonitas que se dizem, coisas inventadas que te soam verdes de esperança, disfarces intencionais que te levam a crer em mim. não acredito no amor tolinho de quem é sincero, sou tão entregue à consciência pura do domínio que farei de cada coisa que te diga uma forma de te prender. e tu hás-de

rastejar por mim até ao fim dos tempos, para

me dares prazer, para me assistires, e eu nunca te substituirei, será essa a minha forma de te amar, será esse o meu garantido respeito




Valter Hugo Mãe

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Espelho meu

Olho-me nos teus olhos.
Não tem fundo a pura madrugada em que me afogo.
Na minha cama desfeita ainda o (teu) calor se deita

António Arnaut

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Procuro-te

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te. Nas ruas, nos barcos, na cama, com amor, com ódio, ao sol, à chuva, de noite, de dia, triste, alegre
Procuro-te






Eugénio de Andrade

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Noites Assim

 Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
...E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços





Alexandre O´Neill

sábado, 23 de outubro de 2010

Outono



Folheia-me como a uma árvore de folhas soltas,
se é outono






Jose Agostinho Baptista

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Despir-me

Tenho-te na pele como voz
que ainda não tive tempo de despir
faço uma pausa, escolho um vestido novo
mas mesmo assim fico um adereço imperfeito
no teu esquecimento




Maria Sousa

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Poemas perfeitos em noites escuras


que horas serão dentro do meu corpo?
que mineral vermelho jorraria se golpeasse
uma veia... não sei... não sei...






Al Berto

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O que nunca te direi


Escrevo o teu nome e um pássaro levanta-se da terra -sobre o seu voo contariam os teus olhos mil histórias que eu escutaria com o mesmo silêncio admirado com que na boca cai um beijo ou a noite atira o amor para cima das camas.
Mas o lápis rola subitamente sobre a mesa e pára a sepultar as palavras que nunca te direi - porque o rio não regressa à cidade que primeiro beijou, nem o navio ruma jamais ao porto que o viu largar.







Maria do Rosário Pedreira

sábado, 16 de outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Nega-me


Contradiz-me.
vá, nega a minha verdade,
convence-me de que há algo que te impregna mais a pele,
que se demora mais em ti.





Pedro Jordão

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Perdido




Me diz, me diz, me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba.






Chico Buarque

terça-feira, 12 de outubro de 2010

E ás vezes


Desculpa
o que te queria dizer talvez não fosse isto
a solidão turva-se-me de lágrimas
e nas pálpebras tremem visões do meu delírio
olho as fotografias de antigos desertos
corpos coerentes que fomos
bocas de papel amarelecido
onde a sede nunca encontrou a sua água
e às vezes ainda tenho sede de ti
mas na vertigem da viagem
o coração galopa desordenadamente

Al Berto

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Esse instante


Lembro-me da minha mão
pousada sobre a tua
e esse instante está debaixo
da palavra solidão.






José Luís Peixoto

domingo, 10 de outubro de 2010

Assim

Consegues imaginar o céu sem o azul ?
É assim que me faltas







Luis Ene

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pietà

Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia que tu sabes qual é.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Onde só ele


tragam-mo ainda que ao
longe esse amor meu
tragam-mo
por favor ainda que ao
longe a ver-me o vazio dos
olhos onde só ele pode caber






Valter Hugo Mãe