quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Tantas noites de frio

 


(toca-me os olhos devagar até que o frio me aqueça)



Ana Luísa Amaral

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Leva-me


No outro lado da noite o amor é possível
 

 
Alejandra Pizarnik

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Nos dias tristes é Inverno


Nos dias tristes fala-se sozinho
e há sempre uma ave que pousa
no cimo das coisas
em vez de nos pousar no coração...



Filipa Leal

sábado, 24 de novembro de 2012

Precário equilíbrio


Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
  Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
  Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
  Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!


Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Calendário das dificuldades diárias


Hei-de sobreviver ao meu próprio caos,
  antes que a noite seja mágoa no poente e, por dentro das manhãs,
  morram os pássaros sufocados de tristeza.
 

Graça Pires

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Portas entreabertas


Não deixes portas entreabertas
Escancare-as.
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas.
Passam apenas semiventos.
Meias verdades
E muita insensatez.


Flora Figueiredo

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Não digo


Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...



Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

sábado, 17 de novembro de 2012

Cadeira vazia

 
 
 

Lugar marcado


Sempre no mesmo lugar,
as cadeiras vazias questionam seu enredo.
Estão vazias dos que saíram cedo
ou daqueles que resistem em chegar?



Flora Figueiredo

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

E pela noite


Quem me dera que a chuva viesse e nos diluísse um ao outro,
e pela noite corrêssemos como um regato em direcção ao mar.


Al Berto

domingo, 11 de novembro de 2012

Assim tão triste


hay diez centimetros de silencio
entre tus manos y mis manos
una frontera de palabras no dichas
entre tus labios y mis labios
y algo que brilla asi de triste
entre tus ojos y mis ojos


  Mario Benedetti

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Silêncios


Silêncios, silêncios de todos os géneros circulam no meu sangue.
Silêncios inexplicáveis, silêncios que vêm dalgum lado desconhecido
do meu corpo, do sul muito ao sul da memória


Al Berto

domingo, 4 de novembro de 2012

Tu


E tu,
sempre tu
num prodígio de luz
a enlouquecer-me
as sombras


gil t. sousa,

sábado, 3 de novembro de 2012

Hoje


Hoje dói-me pensar,
dói-me a mão com que escrevo,
dói-me a palavra que ontem disse
e também a que não disse,
dói-me o mundo.


Roberto Juarroz

Retrato Ardente


Da cintura aos joelhos é que a areia queima,
o sol é secreto, cego o silêncio.


Eugénio de Andrade

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

 

Entre os teus lábios é que a loucura acode
desce à garganta, invade a água.



Eugénio de Andrade

Ouves?


É outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto.



Eugénio de Andrade

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Eternamente tu

 
 
 
 

A Persistência da memória

       Salvador Dali (A Persistência da memória) 

 
Nas cidades podem encontrar-se
relógios que param no último copo,
a lua sobre um táxi
e todos os poemas que te escrevo.


Luis García Montero