quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Procuro-te

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te. Nas ruas, nos barcos, na cama, com amor, com ódio, ao sol, à chuva, de noite, de dia, triste, alegre
Procuro-te






Eugénio de Andrade

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Noites Assim

 Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
...E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços





Alexandre O´Neill

sábado, 23 de outubro de 2010

Outono



Folheia-me como a uma árvore de folhas soltas,
se é outono






Jose Agostinho Baptista

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Despir-me

Tenho-te na pele como voz
que ainda não tive tempo de despir
faço uma pausa, escolho um vestido novo
mas mesmo assim fico um adereço imperfeito
no teu esquecimento




Maria Sousa

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Poemas perfeitos em noites escuras


que horas serão dentro do meu corpo?
que mineral vermelho jorraria se golpeasse
uma veia... não sei... não sei...






Al Berto

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O que nunca te direi


Escrevo o teu nome e um pássaro levanta-se da terra -sobre o seu voo contariam os teus olhos mil histórias que eu escutaria com o mesmo silêncio admirado com que na boca cai um beijo ou a noite atira o amor para cima das camas.
Mas o lápis rola subitamente sobre a mesa e pára a sepultar as palavras que nunca te direi - porque o rio não regressa à cidade que primeiro beijou, nem o navio ruma jamais ao porto que o viu largar.







Maria do Rosário Pedreira

sábado, 16 de outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Nega-me


Contradiz-me.
vá, nega a minha verdade,
convence-me de que há algo que te impregna mais a pele,
que se demora mais em ti.





Pedro Jordão

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Perdido




Me diz, me diz, me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba.






Chico Buarque

terça-feira, 12 de outubro de 2010

E ás vezes


Desculpa
o que te queria dizer talvez não fosse isto
a solidão turva-se-me de lágrimas
e nas pálpebras tremem visões do meu delírio
olho as fotografias de antigos desertos
corpos coerentes que fomos
bocas de papel amarelecido
onde a sede nunca encontrou a sua água
e às vezes ainda tenho sede de ti
mas na vertigem da viagem
o coração galopa desordenadamente

Al Berto

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Esse instante


Lembro-me da minha mão
pousada sobre a tua
e esse instante está debaixo
da palavra solidão.






José Luís Peixoto

domingo, 10 de outubro de 2010

Assim

Consegues imaginar o céu sem o azul ?
É assim que me faltas







Luis Ene

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pietà

Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia que tu sabes qual é.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Onde só ele


tragam-mo ainda que ao
longe esse amor meu
tragam-mo
por favor ainda que ao
longe a ver-me o vazio dos
olhos onde só ele pode caber






Valter Hugo Mãe

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Aqui e agora



O poema é aqui, quando levanto o olhar do papel e deixo as minhas mãos tocarem-te




José Luís Peixoto

sábado, 2 de outubro de 2010

Metade


Metade mulher metade pássaro
Metade anémona metade névoa
Metade água metade mágoa
Metade silêncio metade búzio
Metade manhã metade fogo
Metade jade metade tarde
Metade mulher metade sonho





Jorge de Sousa Braga

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Memórias


Quero falar-te deste amor, como de um vento amordaçado na camisa; uma febre de verão que o mercúrio não acha; um telhado esmagado pela ideia da chuva. Quero dizer-te que sobre ele pairaram sempre brumas e nevoeiros e profecias de temporais maiores, como os que levam para longe os corpos dos navios. Não há notícias deste amor; apenas uma intriga, um recado sonâmbulo, um temor que desmaia as pregas do vestido e um sortilégio urdido nas paisagens suspensas de um mapa que aperto na mão sem desdobrar.
E há memórias deste amor?
A voz sem as palavras, um livro lido às escuras, um bilhete cifrado deixado num hotel, um velho calendário cheio de desencontros?
Não, não há memória deste amor.


Maria do Rosário Pedreira