sábado, 2 de maio de 2015




Como se houvesse uma tempestade 
escurecendo os teus cabelos, 
ou, se preferes, minha boca nos teus olhos
 carregada de flor e dos teus dedos; 
 como se houvesse uma criança cega
 aos tropeções dentro de ti, 
eu falei em neve - e tu calavas
 a voz onde contigo me perdi. 
 Como se a noite se viesse e te levasse, 
eu era só fome o que sentia; 
Digo-te adeus, como se não voltasse 
ao país onde teu corpo principia. 
 Como se houvesse nuvens sobre nuvens
 e sobre as nuvens mar perfeito, 
ou, se preferes, a tua boca clara 
singrando largamente no meu peito.





 Eugénio de Andrade
 (Foto de Natalia Drepina)