segunda-feira, 15 de abril de 2024

a memória guardada





No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto. 
 É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. 
 Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante. 
 Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido. 
 É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: 
 eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
 De tempo e traça meu vestido me guarda. 






 Adélia Prado

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