quarta-feira, 18 de janeiro de 2017




Pensei em mentir, pensei em fingir, 
dizer: eu tenho um tipo raro de,
 estou à beira,
 embora não aparente. Não aparento? 
Providências: outra cor na pele,
 a mais pálida; outro fundo para a foto: 
 nada; os braços caídos, um mel
 pungente entre os dentes.
 Quanto à tristeza 
 que a distância de você me faz, 
está perfeita, fica como está: fria, 
espantosa, sete dedos 
 em cada mão. Tudo para que seus olhos 
vissem, para que seu corpo
 se apiedasse do meu e, quem sabe, 
 sua compaixão, por um instante, 
transmutasse em boca, a boca em pele, 
a pele abrigando-nos da tempestade lá fora. 
 Daria a isso o nome de felicidade, 
e morreria. 
Eu tenho um tipo raro. 







 Eucanaã Ferraz
 (Foto de Laura Makabresku)