quinta-feira, 21 de novembro de 2019

fórmulas mágicas para sobreviver ao quotidiano



Quando atirei a minha roupa suja para a cave
 esqueci-me que guardava um punhado de ideias no bolso de trás das calças, 
quanto tirei a roupa da máquina de lavar encontrei-as espalhadas
 em pedaços de papel totalmente ilegíveis. 
Desde essa altura tudo me sussurra que estou louca
 porque rezo no oposto a um deus que já não existe, 
e porque me aparecem estigmas nas mãos
 e me vêm ver desconhecidos que comigo passam as noites. 
As minhas palavras afogaram-se em saponária 
e não consigo encontrar-lhes o rasto na minha cabeça. 
As letras que surgiram dos meus dedos que anotei nos papéis que guardei no meu bolso
 eram a minha direcção, o meu nome, o título de um livro, 
as línguas que falo, as coisas que não digo.
 Eram fórmulas mágicas para sobreviver ao quotidiano, 
como abrir o correio e dar os bons dias,como não abrir a porta ao homem sedutor 
que nunca se reflecte nos espelhos. 
Tudo o que anotava eram pequenas pistas que seguia para juntar as partes do meu corpo, 
para não me enganar e para saber quem sou sem ter que pensar duas vezes. 







 Ana Merino

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