Os primeiros beijos
ingénuos, comedidos, cautelosos,
os corpos indecentemente jovens,
desastrados como caranguejos,
a cozinha suja, o pequeno-almoço na cama,
cigarros, cerveja, pão turco e tulipas turcas.
Passaram mil madrugadas,
o amor jaz na ausência,
como se o coração perdesse a paciência,
como se o corpo perdesse a memória,
as flores secas, as folhas secas, as raízes secas,
devolveu-me ao mar como se fosse um peixe,
um peixe ferido, um peixe incapaz de sobreviver,
pequenos homicídios sem consequências.
Sobrevivi,
sei que me desmereço mas não sou o que pareço,
agora sou toda janelas,
da torre a sentinela, do sino a capela, da rua a cadela,
sou o morro mais alto da favela,
ainda quero entender o mundo,
ainda quero conhecer o fundo,
quero com desespero,
quero mas não sei o que quero,
mais feitio que defeito,
mais feito que derrota,
mais gaivota que proveito,
mais ignota que perfeito,
mais pé-direito que respeito,
e podem chamar-me pedante,
mas as pessoas que sabem o que querem
nunca querem nada de interessante
Raquel Serejo Martins
(Foto de Monia Merlo)
Hummm que poema tão bonito. Amei :) Obrigada pela partilha!
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As flores, que no silencio, me olham
.
Beijo e uma excelente semana.