sábado, 5 de abril de 2014

Depois do coração


Ontem adormeceste, ainda 
tínhamos as facas todas na boca
 e três por abrir.
 Ficou uma pousada
 em equilíbrio geométrico
 na linha dos lábios. 
Não sei de quem eram 
esses lábios onde
 o gume imóvel não deixava sair
 as palavras duras
 e, mais tarde, os pesadelos.
 Outras o cabo na minha mão, 
esqueci-a antes da última 
costela flutuante depois do coração. 
 De manhã éramos só nós, frios, 
e a memória das cinzas na rua. 
 A terceira foi como se nunca tivesse existido




 Margarida Ferra